segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Tudo “a quilo” que sua fome pode pagar

Instituição tipicamente nacional, os restaurantes com comida “a quilo” vieram pra ficar e representam a quase totalidade das opções para quem come diariamente fora de casa. O famoso jeitinho brasileiro aplicado nos negócios e na gastronomia, esse tipo de restaurante teve até seu nome adaptado, modificando a norma gramatical padrão, para ficar mais fácil, mais rápido e mais simpático.
As comidas “a quilo” vão muito além do simples ato da alimentação de subsistência. Com total incentivo à libertinagem gustativa, combinações das mais variadas são possíveis, que não estariam nem nos mais desvairados sonhos do mais ousado criador da cozinha fusion. Poucos minutos de observação e um desfile incomum de pratos passa diante dos olhos. Lasanha com sushi, couve-flor gratinada e mamão; salada marroquina com feijoada e picadinho ao molho madeira; coxinha com catupiry, salada caprese, arroz piemontês e moqueca capixaba. Cada pessoa pode se comportar como chef de cuisine de si própria no maior exercício de liberdade gastronômica que se pode imaginar.
Na cozinha, o clima de liberdade e libertinagem continua. Lá, mais uma vez, tudo é possível. Nesses templos de épocas globalizadas, influências de vários países convivem de forma pacífica e cordial. É perfeitamente aceitável uma sequência com gnocchi al sugo, yakisoba, boeuf bourguignone, tutu à mineira, moussaka, paella marinera... O mundo ao alcance das mãos.
É na cozinha, também, que a famosa Lei de Lavoisier é aplicada na sua forma mais filosófica possível. Nada se cria, nada se perde, tudo se transforma. Tudo se recria. O assado de hoje pode virar belas polpettas à parmegiana amanhã, o arroz ganha sabores e tonalidades diversos, legumes recebem rapidamente status de soufflé. Verdadeiro milagre econômico para a administração do restaurante, onde os custos e as perdas são fantasmas sempre presentes.
Mesmo não sabendo ao certo como surgiu, essa nova forma de comer foi aceita naturalmente, sem ferir as bases alimentares ou, mais profundamente, a cultura gastronômica de cada um. Ao contrário, tornou-se um exercício diário de criatividade pelo módico preço de um ticket-refeição.

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