sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Colombo e o mistério da omelete perfeita

Ao ser questionado por seus invejosos opositores que a descoberta da América era só uma questão de tempo e que bastava apenas “refletir” para se chegar a ela, Colombo, à mesa, propôs um desafio: manter um ovo em pé sobre uma de suas extremidades. Depois de circular de mão em mão, sem sucesso, o grande navegador esmagou uma das extremidades do ovo sobre a superfície da mesa e o fez parar em pé. “Assim é fácil”, foi o comentário geral. Colombo respondeu com ironia: “é verdade, basta refletir”. Símbolo de fertilidade, de renovação, de libertação para muitos povos, o ovo passou para a história, também, como símbolo da genialidade.
Alimento multifuncional, excelente fonte de proteínas da mais alta qualidade, o ovo é um ingrediente precioso e indispensável na cozinha. Entre suas propriedades culinárias, ele coagula quando submetido ao calor e emulsiona quando misturado com óleo ou com água. Genial! Pode ser preparado de inúmeras formas. Estrelado, mal passado, quente, enformado, cozido, mexido, frito, duro, poché... Sempre uma delícia. E, como parte de uma receita, então, é pura versatilidade.
Sem ele, por exemplo, não existiria a maionese, grande invenção do século 18, base de molhos e pratos conhecidos e apreciados. Sem ele não existiriam os suflês, deliciosos, leves, aerados. Sem ele não existiria a ambrosia, comida dos deuses. Sem ele, na verdade, não existiria grande parte da nossa doçaria. O creme inglês, os sorvetes, os rocamboles, os pudins, o quindim, o pastel de Belém... A vida teria muito menos sentido.
Sem o ovo não existiriam as omeletes. Ah, as omeletes! O máximo de perfeição que este ingrediente pode chegar. Uma dama de aparência tão singela e inofensiva que guarda tantos mistérios e segredos.
Fazer a omelete perfeita exige técnica apurada, conhecimento, jeito e, por que não, um pouco de sorte. Paul Bocuse, em seu livro, ensina que “para fazer uma boa omelete, a prática vale mais do que todos os conselhos. O jeito só se adquire com a experiência”. Generoso com sua gastronomia, mas nem tanto, como se deve esperar de um francês, ele acaba dando algumas dicas de preparo. “Bater os ovos levemente com um garfo, de modo a apenas misturar as claras com as gemas, sem que as primeiras percam sua qualidade viscosa. Bater demasiado liquefaz o ovo que, jogado na manteiga quente, não incha. A omelete fica pesada e com gosto menos agradável.”
Algumas pessoas misturam leite, outras batem as claras em neve, outras, ainda, colocam os ovos batidos na frigideira fria. Cada um tem seu segredo para preparar a omelete perfeita. E cada um garante que o seu é o melhor. Afinal, quem nasceu primeiro: o ovo ou a vontade de comer bem?

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