sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Alimentos "gourmet" ou a saga da aroeirinha

Caviar, lagosta, trufa branca, foie gras, porcini frescos, lentilles vertes du Puy, jamón ibérico de bellota, kobe beef... Todos considerados alimentos gourmet. Objetos de desejo, presentes, em maior ou menor grau, no imaginário popular como iguarias algumas vezes inatingíveis. Reservados para eventos especiais, tornam estas ocasiões verdadeiramente inesquecíveis. Mas, afinal, o que faz um alimento ser qualificado como “gourmet”?
Cuidados especiais com a matéria-prima, controle rígido do processo de fabricação, limites geográficos e culturais para sua produção e sazonalidade são algumas características comuns aos alimentos gourmet. E é claro que esta combinação de fatores eleva o preço destes produtos, fazendo com que se tornem ainda mais especiais. Mas nem sempre é assim. Algumas vezes um curioso conjunto de fatores ou uma bela estratégia de marketing são suficientes para um alimento ser considerado gourmet e passar a ser vendido como tal.
Veja o caso da pimenta-rosa. O simples frutinho da aroeira-vermelha (árvore nativa de diversos tipos de vegetação do Brasil, ocorrendo do Pernambuco ao Rio Grande do Sul), teve que ir para a França e dar um toque tropical à nouvelle cuisine para, então, retornar ao nosso país como um produto importado, um alimento gourmet, rebatizado de poivre rose. Daí passou a freqüentar as cozinhas de restaurantes renomados, mais como elemento de decoração que como condimento.
Assim como a pimenta-rosa, qualquer alimento pode chegar ao status de gourmet. E sem precisar correr o mundo para isso. Com conhecimentos gastronômicos e técnica culinária apurada, além do domínio das características físicas e sensoriais do ingrediente, é possível transformá-lo em pratos saborosos e bem elaborados, com novas características sensoriais.
A chef Roberta Sudbrack, reconhecida como uma das melhores do Brasil, faz um trabalho interessante em seu restaurante. A cada ano, elege um ingrediente corriqueiro, daqueles que ninguém dá atenção, trabalha com ele a fundo e, com técnica muito precisa, extrai desse produto o melhor em termos de texturas, sabores e sensações. E olha que ela já fez esta experiência com o chuchu, a abóbora e o quiabo.
Abra sua geladeira e olhe sua despensa com outros olhos. Quem sabe num próximo jantar o menu não será formado por jiló, costelinha e goiaba? Carré suíno com flã de jiló e barbecue de goiabada. Estão servidos?

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