sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

O que estou lendo agora

Um livro, quase um almanaque, bem interessante, com estudos que revelam vexames de heróis nacionais e derrubam mitos sobre índios e negros. É o Guia politicamente incorreto da História do Brasil (Leandro Narloch, Editora Leya, 2009). Para o autor, é a preguiça dos autores de livros escolares que ajuda a eternizar versões maniqueístas da historiografia do país, quase sempre contada como um embate entre mocinhos e bandidos, colonizadores versus explorados, ou uma devoção cega a heróis e ídolos oficiais.
 

Você pode estar se perguntando o que faz este livro num blog de Gastronomia. É que, dentre vários outros mitos desfeitos, ele conta que a feijoada, ao contrário do que aprendemos de seu nascimento nas senzalas, tem origem europeia. E quem diz isso é o próprio folclorista Câmara Cascudo, ele mesmo nem tão politicamente incorreto. "Conforme o que ele conta no livro História da alimentação no Brasil, nem índios nem negros tinham o hábito de misturar feijão com carnes. A técnica de preparo vem de mais longe: o Império Romano. Desde a Antiguidade os europeus latinos faziam cozidos de misturas de legumes e carnes. Cada região de influência romana adotou sua variação: o cozido português, a paella espanhola, o bollito misto do norte da Itália. O cassoulet, da França, criado no século 14, é parecidíssimo com a feijoada: feito com feijão branco, linguiça, salsicha e carne de porco. Com feijão preto, espécie nativa da América que os europeus adoraram, o prato virou atração entre os brasileiros mais endinheirados. A citação mais antiga que restou sobre a feijoada mostra a refeição bem longe das senzalas. No Diário de Pernambuco de 7 de agosto de 1833, o elegante Hotel Théâtre, de Recife, informa sua nova atração das quintas-feiras: feijoada à brasileira."

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